Minha relação com a polícia parece ser de muitos anos. Desde criança sempre odiei a polícia e os policiais. Mas odiava mesmo. É o mesmo estereótipo da maioria daqueles que me escutam agora: “Todo policial é bandido”. E se existisse alguma profissão de combate às polícias, essa seria a profissão que gostaria de exercer quando crescer. Podem achar estranho eu falar dessa forma, mas é assim que começam as grandes paixões ‘holiudianas’. Aquelas, onde a dramaturgia finaliza o enredo com o amor, onde os protagonistas que se odiavam quando se viram pela primeira vez, se beijam no final.
O primeiro contato que tive com a Polícia Civil foi para fazer a inscrição do concurso de 2003. Naquela época a internet estava dando seus primeiros passos e as inscrições aconteciam presencialmente. Naquele momento, escolhi um cargo com menos vagas, acreditando ser a estratégia de espantar a concorrência (Geralmente os concurseiros correm para os cargos de maior número de vagas). Parece que deu certo, foram apenas 167 candidatos para cada vaga, no total de 20.
Fui bem, estudei bastante e consegui me classificar em 22º lugar. Pulando pra 21º após os exames médicos. Mas o melhor de filme são os suspenses. E o protagonista principal, que nesse texto sou eu, ainda não estava preparado para última cena, a do beijo ardente com a protagonista, Polícia Civil. Os motivos deste adiamento, conto logo em seguida, nos próximos capítulos desta novela.
Às vezes fico dizendo a mim mesmo que foi muito fácil chegar até aqui. Parece que as coisas ruins que passamos, inconscientemente, esquecemos ou tentamos esquecer. Mas vou tentar resumir aqui esta peregrinação de mais de 3 anos.
Todas as fases, até hoje, foram muito complicadas, difíceis e cansativas. O primeiro capítulo começa com a inscrição. E quando falo em inscrição, estou me referindo ao pagamento desta. Em 2008, quando lançaram o edital, o valor era de 138 Reais. Naquele momento, por mim, financeiramente falando, não chegaríamos ao segundo capítulo desse drama. Com esforço, minha esposa supriu esta pendência e superamos esta fase.
Entre idas e vindas, decisões judiciais, adiamentos, cancelamentos, retificação de edital e tudo mais, conseguimos, enfim, fazer a prova objetiva e subjetiva. Já estamos, aproximadamente, 5 meses depois da bendita inscrição, final de março, o ano já é 2009. Pra terem idéia da “muvuca”, quinta-feira, três dias antes da primeira prova, aparece uma liminar cancelando-a, que em seguida é derrubada. Psicologicamente a gente não sabe se vai ou se não vai, mas foi.
Primeira prova, eis na minha frente 80 questões objetivas e uma redaçãozinha de nada. Simples e fácil. Bastava eu acertar 50% dos conhecimentos básicos, 10 questões, mais 50% dos conhecimentos específicos, 30 questões. Além, claro, ter uma média acima de 50% na redação.
Prova terminada, redação escrita, volto pra casa com o desejo de me manter entre os 50 colocados, imaginando que pelo déficit que existe hoje na polícia, nos 4 anos de duração do certame estaria convocado. Eram 38 vagas, sabia eu que 3 vezes este número seria classificado, como a concorrência deu abaixo dos 3, quem conseguisse superar este filtro, estaria classificado.
Voltando pra casa, começa os primeiros momentos de angústia, de espera. Esperávamos, àquela época, o gabarito parcial, para no jogo do acertou ou errou superar o ponto de corte. Lembro do momento em que recebi a ligação, avisando-me sobre o resultado do gabarito no site. Tranquilamente imprimi o gabarito e fui cuidadosamente verificar os acertos e os erros. Das 20 questões específicas, acertei 16. Ótimo. Seis a mais do que eu realmente precisava. Das 60 específicas, leia especifica como Direito Administrativo, Código Penal, Processo Penal e todos estes termos jurídicos que até hoje não sei bem diferenciar, consegui acertar 32 questões. Resumindo a cena, para pularmos para o próximo capítulo, na prova objetiva superei o ponto de corte e estava dependendo apenas de um resultado satisfatório na redação. A alegria sempre foi contida, pois o percurso até hoje foi longo, vocês verão comigo nas próximas cenas.
E a próxima cena é o resultado final da prova objetiva e o parcial da subjetiva. Com este resultado a gente percebe que o maior concorrente foi a prova. Dos 90 inscritos para meu cargo, menos da metade conseguiu acertar 50% da prova. Dos 40 que conseguiram superar a prova objetiva, 2 dezenas não superaram a redação, restando, hoje, apenas 10.
Com o resultado, já sabia que estava classificado, bem melhor colocado do que esperava e dentro das vagas. Mas a alegria ainda era contida, tinham várias etapas pela frente e o filme ainda estava na primeira parte.
A segunda fase do concurso eram os exames médicos e laboratoriais. Uma lista. Mais uma vez a ajuda dos amigos e da família para conseguir um exame aqui, uma vaguinha ali. Esta etapa era mais para cumprir tabela. O risco de eliminação era mínimo, mas tudo é possível. Do dia da primeira prova até o resultado desta fase, já se passavam 100 dias. E haja angústia e haja espera.
Ainda tem cenas e capítulos, desta vez correndo ao sol do meio dia. Chegava a hora do teste de aptidão física. 2400 metros em 12 minutos parece ser fácil, mas até atleta se deu mal e foi eliminado. Até dias antes, fazia o tempo em 13 minutos, no dia consegui terminar a prova em 11 minutos e 40 segundos. Mais uma etapa vencida, mesmo assim a alegria era contida.
E pra quem achava que iria ser fácil chegar à próxima fase, lá se vem 100 dias de espera de um resultado. Haja mais suspense, angústia, espera e paciência.
Chegamos aqui ao mais tenebroso momento do concurso. O teste psicotécnico. Mais conhecido como o teste do doido. Mas num é não. Lembra que no início da minha fala, do concurso de 2003, dizia que naquele momento não estava preparado para o momento do beijo? Pois é. Em 2003, pelas árvores sem galhos e sem frutos, pelos desenhos, pelos traços entre outros, fiquei eliminado no bendito teste psicológico. Só quem não passa é doido! Frase que escutei antes da prova. Isso tem arrumadinho! Frase que escutei depois do resultado, dita pela mesma pessoa (risos). Enfim, pra mim, o teste psicológico era o mais complicado, porque não dava pra estudar. Seria questão de lógica, desenhos abstratos, sei lá o que a psicologia esperava de mim e isso me angustiava e me deixava numa alegria contida.
Mas a prova tava simples, facílima. Foram apenas 7 testes diferentes. Mais de 5 horas de prova. E quase 80 dias para o resultado. Angústia, espera e paciência completa este parágrafo, que encerra as cenas do ano de 2009.
Iniciamos o ano de 2010 com as provas de títulos. Desta fase não participei, por não ter nenhuma especialização ou mestrado. Aqui só contava como classificatório.
Dias depois, os escrivães são submetidos ao teste de digitação. Chegou à minha praia. Aqui eu sei surfar. Mesmo assim, tudo é possível. Sabe-se lá o que vai acontecer. Até uma simples dor de barriga na hora pode atrapalhar o teste. Dos 90 escrivães que fizeram o teste, fui o terceiro colocado.
Foi também com 2010 que surgiram os movimentos pró-conclusão do concurso. Já em janeiro, fomos à Praça da Bandeira coletar assinaturas para um abaixo assinado. Em maio, fui à Bananeiras conceder entrevista a rádio local cobrando a conclusão das etapas. Reuniões em junho com Deputados, vereadores e políticos. Em julho fomos às ruas de Campina distribuir o jornal Insegurança, idealizado e editado por mim. Fomos à João Pessoa afixar cartazes e faixas em praça pública. Doamos sangue em agosto. Fomos citados no Congresso Nacional pelo Dep. Efraim Filho e fomos notícias em todos os jornais, portais e rádios do Estado.
O nosso movimento crescia, mas parecia ser indiferente para a classe política. Fomos notícias e temas de todos os debates da campanha passada. Concursados virou uma nova categoria na Paraíba. Mas só em outubro chegamos ao Curso de Formação Policial.
Manchetes do mês: Aprovados no concurso da Polícia Civil serão convocados pelo Governo do Estado; Justiça manda Estado convocar 418 aprovados para Polícia Civil. 450 alunos iniciaram o curso; 424 concluíram.
Foram 5 meses em João Pessoa. Para a nossa felicidade, fomos a primeira turma a receber bolsa para os estudos. 590 Reais serviriam para o aluguel, transporte CG-JP/JP-CG, alimentação e outras despesas. Alguns iam ao cinema, preferia o rodízio de pizza das quintas-feiras.
Ainda escutei que seriam 3 meses de férias na Capital, mas foram 5. Não de férias, mas muitas aulas. Houve dias em que as aulas eram os três turnos. Corremos na areia pesada da praia e no asfalto. Pulamos, debatemos, apresentamos seminários, fizemos provas, atiramos, nos defendemos, fizemos trilhas no mato. O bom é que toda sexta-feira voltávamos pra casa.
Mas o curso foi bom. Aprendemos e aprendemos a amar a Polícia Civil. Há quem diga que o câncer toma conta da instituição, mas prefiro ser otimista e fazer a minha parte. Talvez seja porque o amor seja cego, mas não posso desistir antes mesmo de começar. Com certeza, vou fazer por onde honrar todos os anos de estudo, esforço e a dedicação que tive a este concurso. Vou saber diminuir o sofrimento de quem vai procurar uma delegacia para prestar uma queixa dos documentos perdidos, afinal eles não tem culpa do “sistema” estar ou ser falido. Farei por onde os próximos concursados não escutarem de seus amigos e familiares que: “A Polícia não é o seu lugar!” ou “Você é muito bom pra ser policial”. E quem disse que deve ser ruim pra ser policial? Este estereótipo irá diminuir e não vai ser agora que vou desistir. Porque se eu fosse de desistir, pegaria os 138 Reais lá do início da novela e pagaria uma luz atrasada; Pra mim seria mais cômodo e supriria a minha necessidade momentânea.
Ionara não sabe, mas certo dia eu perdi o sono de madrugada para escrever mentalmente estas falas.
Enfim, voltando ao filme ou novela, como preferir, concluímos o curso de formação. Apaixonados pela polícia e loucos para trabalhar, principalmente para receber os primeiros salários. Que talvez reclame daqui a uns dias, mas, hoje, pra mim é uma riqueza sem fim.
E no dia da mentira, parece até mentira, em 1º de Abril de 2011, mais de dois anos após a primeira prova do concurso eu era o mais novo Policial Civil desempregado. Já viu essa? Pois é, para ser policial não é fácil não, ainda precisava ser nomeado. Ricardo foi à formatura, mas frustrou a todos e não anunciou a nomeação. Vinte dias depois, saiu a primeira convocação. No dia do policial civil, 150 foram nomeados e eu fiquei de fora da primeira lista. Eu já sabia um dia antes. Mais espera, mais angústia, mais paciência. Entenderam agora porque minha alegria era contida? A novela é de vários capítulos e a cena do beijo ainda estava por vir.
E a espera continuava. A previsão era pra nomeação em julho e setembro de 2011, mas as datas chegaram e a nomeação não apareceu.
Dia 20 de abril, Ricardo Coutinho anuncia a contratação de 51 policiais civis para o próximo dia, 21. Destes, 15 seriam Escrivães, mas restavam 30 serem nomeados. A noite da sexta-feira para o sábado foi longa. 7h30 recebo a confirmação da nomeação, por telefone.
Do dia da primeira prova até aqui, se passaram 3 anos e 1 mês. É ou não é quase cena de uma novela?
9 comentários:
Excelente roteiro, mas essa novela continua para a grande maioria dos concursados.
Amigo, suas palavras arrancaram lágrimas dos meus olhos, almejo essa alegria deixar de ser contida dentro de mim também, feliz por você, parabéns. Repetindo suas palavras, somos privilegiados, pq muitos gostariam de está no nosso lugar....ès ninja nas palavras, ficou muito bom. Faça a diferença no seu setor e vamos mudar a visão da sociedade com relaçao a polícia. Beijos.
Parabéns Meu amigo Frank! que Deus te abençoe nesta nova caminhada! estou muito feliz por você ter sido nomeado, e logo logo a gente se encontra na PCPB!! abração. mas antes de qualquer coisa passa na penitenciária máxima para levar uns presos para eu cuidar!! hihihihiihh!! abração
Alysson Figueiredo
Meu amigo frank! meus parabéns!! muita felicidade nesta sua nova caminhada. fiquei muito feliz por você!! Enquanto ainda não sou nomeado vê se leva uns apenados lá para a penitenciária máxima para a gente cuidar lá!! hihihihiihhi abração meu fi! e boa sorte pra você! fica com Deus!!!
Excelente roteiro.
Parabéns pela colocação, perfeita.
Tenho certeza que você e os demais nomeados viram engrandecer a nossa polícia.
seja bem vindo a Polícia Civil.
abs
Poucas vezes li relatos tão precisos e com um tom tão poético. Parabéns pelo texto, parabéns pela nomeação que veio por merecimento, você, como diz no texto, nunca desistiu e sempre lotou por isso, e acredito que a Policia Civil da Paraíba ganha um homem de coragem, e acima de tudo, um homem honesto.
Cara ao menos vc conseguiu ser nomeado. Eu estou em 64° para investigador e nem CF eu fiz ainda. mas graças ao bom Deus continuei estudando, passei na PCCE para inspetor e a acadepol começa esse mês. As condições salariais e de trabalho são superiores a PB. Enfim minha novela aqui na PB ainda tá rolando, mas eu escrevi o roteiro novo para minha vida e se Deus permitir serei nomeado ainda esse ano! abração. Italo
Lindo texto meu Amor, parabéns você é mais que vencedor, você é um exemplo a ser sguido por muitos!
Te Amo...
Lindo, parabéns meu Princípe você é mais que vencedor, sempre lutou e nunca desistiu, sei que vieram vários momentos de reluta e desânimo mas nem por isso você deixou de acreditar. Sei que você hje tem feito o melhor para que o serviço público na área policial se torne melhor para a população.
Te amo...
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