domingo, 9 de março de 2008

Aguardente de Torar


Na budega de Biu Tonha
numa cidade do interior
num sábado bem cedinho
clima de muito calor
resolvi tomar uma pinga
junto de quatro meninas
conhecidas que só banana
foi quando entrei no bar
e mandei agilizar
cinco lapada de cana.

Esqueci foi de falar
triste da minha inocência
num disse qual era a cana
de minha preferência
e o garçom que num é besta
trouxe pra eu tomar
última categoria
foi abrindo a guela,
bater no buxo
e começar a agonia.

Aguardente ruim da mulesta
comecei uma confusão
Gritei: isso lá presta
só tem gosto de sabão
chamei o danado do garçom
puxei pela camisa
e meti-lhe um empurrão

jogue esta poiqueira fora!
vim aqui pra ser cliente
quis apenas uma dose
vou terminar doente
e se pegar este garçom
meto a mão por cima
na boca num fica um dente

tentaram me acalmar
me chamando de senhor
comigo ninguém se mete
viro turbina de motor
passo por cima de quem vier
seja lá quem for

pense num dia de azar
comigo acontecendo
olhei pra porta do bar
vi umas luzes acendendo
era a polícia militar
que veio me buscar
pra saber o que to fazendo

Dentro da viatura
três policial arrumado
um revólver na cintura
do doutor delegado
o cabo Juarez,
o soldado Serafim
estes dois desarmado.

Biu Tonha e as meninas
começaram a se esconder
foram pra trás dum pilar
isso pra ninguém ver
dei fé chegou o delegado
todo chato e abusado,
querendo me interrogar
sei que o cenário tava armado
o delegado preparado
doido pra me levar

Juarez e Serafim
chegaram perto de mim
comecei a me afastar
falando bem baixinho
disse: autoridade
vou tentar me explicar
foi quando me inspirei
de Doutor eu o chamei
e pedi pra se sentar.

lá de fora saiu um grito
do garçom muito nervoso
prende esse maldito
ele é muito mentiroso
Serafim disse: Venha comigo!
Vou levar pro calabouço

Deixe eu contar
A história pro senhor

Se quiser me levar

Pode saber que eu vou

Mas na verdade este cabra

Num é santo e me enrolou


entrei neste bar
fui até muito educado
pedi pra colocar
um copo caiculado
mas quando fui tomar
o que ele tinha butado
cheguei a desmaiar
vendo céu todo estrelado.

Vossa Excelência
Deixe me aproximar
Quero no seu ouvido
Uma coisa lhe contar
Que despois que eu disser
O senhor vai liberar

Com calma e paciência
Fui me aprochegando
Sentei na cadeira, bem perto
Nisso todo mundo olhando
informei ao delegado
O que tava se passando.

Depois que terminei
O delegado ficou mudado
Levantou-se da cadeira
Com o jeito envenenado
Num se aperrei hômi
tu já ta liberado
Isso dizendo pra mim
Bartolomeu, o delegado

Serafim, solte o homem
Pegou o cara errado
Que cana era essa?
Perguntou o delegado
Era uma papuda
Respondeu o atrapalhado
Fechem este boteco
E leve ele amarrado

Nisso Serafim soltou
O meu braço apertado
Juarez levou
O garçom arrastado
E Bartolomeu, agora amigo meu
apertou a mão, pediu desculpa
Tá desculpado.

Num segundo,
o carro levantou poeira
As meninas chegaram
numa tremedeira
E Biu Tonha, pelos fundos
fugiu numa só carreira.

Passado o constrangimento
Vinheram me perguntar
O que eu tinha dito
Pra Bartolomeu,
num instante me soltar.

Ora! disse a verdade
O que era pra contar:
Delegado, tenho desejo!
Só bebo
Caranguejo
Aguardente de Torar.

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